Aldemir Martins foi considerado um dos melhores desenhistas do mundo pela Bienal de Veneza de 1956. Mas o desenho era só um fragmento da multifacetada personalidade desse artista cearense criado no oco do mundo, a emblemática Ingazeiras, cidade do interior do Ceará, no Vale do Cariri, onde nasceu em 8 de novembro de 1922. Na pintura ou na cerâmica, na gravura ou na joalheria, passando pela ilustração, desenho e escultura, expressou-se com liberdade, sem as restrições do preconceito. A transgressão torna-se uma marca registrada. Gatos, galos, peixes, cangaceiros, cores e rendeiras circulavam livremente em suportes tão pouco convencionais como papéis de carta, copos de requeijão, caixas de charuto, ezmbalagens de sabonete e de sorvete e mais recentemente em embalagens de pizza.
Morreu no dia 5 de fevereiro de 2006, aos 83 anos, em São Paulo, cidade que adotou em 1946 para se tornar um dos mais respeitados artistas plásticos brasileiros. A trajetória de artista premiado (1) é marcada pelo prêmio de melhor desenhista da Bienal de São Paulo de 1955, láurea dividida com o colega Carybé. No ano seguinte, consagrou-se ao ser escolhido para receber o prêmio de melhor desenho na Bienal de Veneza de 1956. Era o reconhecimento de um talento descoberto nos tempos do serviço militar (1941 a 1945), época em que foi promovido a Cabo Pintor, prêmio a quem vencesse o concurso de pintura de viaturas da corporação promovido pela Oficina de Material Bélico da 10ª Região Militar.
Filho de um modesto funcionário público e de uma dona de casa descendente dos índios tapuias, Aldemir Martins teve uma infância pobre e o Exército seria uma das poucas oportunidades possíveis de inclusão social, como observou o crítico paulistano Jacob Klintowitz em seu livro “Aldemir Martins, o Viajante Amigo”. Quando deixou o serviço militar ele já freqüentava a cena das artes plásticas de Fortaleza. Antes de pegar o último pau de arara para o sul maravilha ajudou a criar o Grupo ARTYS e a Sociedade Cearense de Artistas Plásticos Em 1941, participa da criação do Centro Cultural de Belas Artes, em Fortaleza, com Antonio Bandeira (1922-1967), Raimundo Cela (1890-1954), Inimá de Paula (1918-1999) e Mario Baratta (1915-1983), um espaço para exposições permanentes e cursos de arte. Três anos depois, a instituição passa a chamar-se Sociedade Cearense de Artes Plásticas - SCAP. Aldemir Martins produz desenhos, xilogravuras, aquarelas e pinturas. Atua também como ilustrador na imprensa cearense.
Aldemir Martins saiu do Ceará em 1945 para ir morar no Rio de Janeiro, mas logo no ano seguinte mudou-se para São Paulo, onde se fixou de vez depois de breve passagem em Roma, de 1960 a 1961.
Além de participar de um sem número de exposições (2), no Brasil e no exterior, foi condecorado pelo governo brasileiro com a Ordem do Rio Branco, em grau de Cavaleiro. Suas obras estão expostas em museus e coleções privadas na França, Suíça, Itália, Alemanha, Polônia, México, Argentina, Uruguai, Peru, Estados Unidos, Chile e, claro, no Brasil.
Desde o início da carreira sua produção é figurativa, e o artista emprega um repertório formal constantemente retomado. Nas pinturas emprega cores intensas e contrastantes
Aldemir Martins começa a desenhar ainda no Colégio Militar, que freqüenta desde 1934. Na década de 1940, trabalha como artista em Fortaleza, ao mesmo tempo que busca atualizar o então incipiente meio artístico da cidade.
Os trabalhos mostram grande influência de Candido Portinari (1903-1962), tanto no tratamento do tema como no traço. Em 1951, faz desenhos de paus-de-arara, rendeiras e cangaceiros. Esse trabalho recebe o prêmio aquisição para desenho na 1ª Bienal Internacional de São Paulo.
Dois anos mais tarde, faz o cenário da peça Lampião, de Rachel de Queiroz. Na década de 1960, trabalha muito com arte aplicada a objetos comerciais. Em 1962, cria cenário para o 1º Festival da MPB, da TV Record, e elabora estampas para tecidos da Rhodia Têxtil. Faz ilustrações dos aparelhos de jantar da série Goyana de Cora. A partir da segunda metade dos anos de 1960, Martins faz esculturas de cerâmica e acrílico, além de jóias em ouro e prata. Em 1969, ilustra bilhetes de loteria. Seis anos mais tarde cria a imagem de abertura da telenovela Gabriela, da rede Globo. Em 1981, repete a experiência na abertura da telenovela Terras do Sem Fim. Nos anos 1980, ilustra jogos de mesa, camisetas e latas de sorvete da Kibon.
Aldemir Martins, um artista simplesmente fantástico.
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